Corais formados por detentos se apresentam em encontro regional
Os acordes familiares das músicas de Milton
Nascimento, Luiz Gonzaga, Geraldo Vandré e outros renomados artistas
brasileiros puderam ser ouvidos de longe por quem passasse pelo centro
de São Lourenço, no Sul de Minas. A cidade, localizada a 390 km da
capital mineira, recebeu, na manhã de 14 de setembro, sábado, o II Encontro
de Corais Penitenciários do Sul de Minas.
Cerca de cem detentos e detentas dos regimes fechado e semiaberto se
apresentaram durante o evento. Eles integram nove corais e uma banda,
todos de unidades prisionais de dez municípios da região: Baependi,
Campo Belo, Caxambu, Poços de Caldas, Pouso Alegre, Três Corações, Três
Pontas, Varginha, São Lourenço e Santa Rita do Sapucaí.
Para o organizador do encontro e músico referência da Superintendência
de Atendimento ao Preso (Sape), José Henrique Martins, as atividades
culturais são um dos caminhos para se promover a ressocialização e a
humanização da pena. “A arte transforma e, quando feita por detentos,
mostra à sociedade que todos merecem uma segunda chance”, ele ressaltou.
Cada grupo cantou três músicas. As apresentações duraram entre 10 e 12
minutos. O evento foi aberto pelo Coral Canção e Vida, atualmente
formado por seis detentas do Presídio de Poços de Caldas. “Canário do
Reino”, de Tim Maia, e “Faz um Milagre em Mim”, de Regis Danese, fizeram
parte do repertório.
“O encontro mostrou que o sistema prisional também é um ambiente onde
impera a arte e a cultura”, avaliou o superintendente de Atendimento ao
Preso, Helil Bruzadelli, que representou a Subsecretaria de
Administração Prisional (Suapi) no evento. “A musicalização dentro das
unidades ajuda a cativar os sentimentos dos detentos e a levar emoção
para todos os envolvidos”, completou. Juízes, promotores e prefeitos
dos municípios da região, além dos direto
res gerais dos dez presídios
inscritos, também estiveram presentes.
Depoimento
Dos seus 28 anos vividos, Gilson Ambrosino de Jesus já dedicou 18 à
música. Baterista e arranjador profissional, já tocou em várias bandas e
trabalhou com grandes artistas. “Um exemplo é a Natália Pacheco,
professora de canto lírico do Palácio das Artes, de Belo Horizonte”,
relata entusiasmado. Atualmente, além das atividades que desenvolve no
estúdio que mantém em São Lourenço, ele também participa do coral “Vozes
da Cela”, do presídio do município, onde cumpre pena em regime
semiaberto desde fevereiro de 2012.
“Independente do lugar, a música é funcional”, defende Gilson, que
também faz os arranjos dos corais dos Presídios de São Lourenço e
Caxambu. Ele conta que, ao entrar no sistema prisional, começou a dar
aulas de teoria musical para outros detentos, dentro da cela, e, ainda,
que escreveu o hino da escola que funciona na unidade onde cumpre pena.
“Paredes e grades não prendem ninguém, pois é a mente que prende”,
declara. “A música deixa meus pensamentos livres, então eu sou livre”.
(Disponível em https://www.seds.mg.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=2444&Itemid=71 Acesso em 20 set. 2013)